quarta-feira, 16 de julho de 2008

14/03/08 As Concepções de Infância... Memorial de Formação


A criança não pode esperar. Agora mesmo seus ossos estão sendo formados, seu sangue está sendo feito e seus sentidos estão se desenvolvendo. Não podemos lhe responder: "Amanhã". Seu nome é hoje.
GABRIELA MISTRAL



Entender como se processa o desenvolvimento humano. Ou melhor, o que é desenvolvimento? É crescimento, aumento,propagação,progresso, civilização, cultura intectual, amplitude... são tantos os significados... mas, desenvolvemos alguém? Não! Somos mediadores para o desenvolvimento.
Para os sociointeacionistas Wallon, Piaget e Vygotsky as concepções de infância, criança de desenvolvimento são diferentes, no entanto, eles concordam que a criança constrói a partir das trocas estabelecidas pelo meio, e esse processo é dinânico.
Para Henri Wallon, médico francês há estágios de desenvovimento que são reformulados, com algumas rupturas e retrocessos, ele define quatro elementos importantes : inteligência, afetividade, movimento e construção do eu.
Lev Semenovich Vygotsky entre outros fatores destaca a linguagem e a Zona de Desenvolvimento Proximal, que atua na mediação entre o real e o potencial.
Para Jean Piaget, a criança de 0 a 12 anos passa por diferentes estágios: sensório-motor, pré-operacional, operacional concreto e operacional abstrato. Para ele todo esse processo não é desvinculado do meio, e a aprendizagem "puxa" o desenvolvimento.


Desenvolvimento Infantil
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Memorial de Formação


“Não somos pescadores domingueiros, esperando o peixe.
Somos agricultores, esperando a colheita, porque a queremos
muito, porque conhecemos as sementes, a terra, os ventos e a
chuva, porque avaliamos as circunstâncias e porque
trabalhamos seriamente.”
Danilo Gandin


Um pouco de minha história...

Sou de uma família humilde do interior de Goiás. Meu pai era agricultor e perdeu suas terras em função de péssimos negócios da família, minha mãe estudou até a 5ª série e ministrava aulas em turma única para alunos de 1ª a 4ª série primária. Mudamos da zona rural para uma cidade pequena. Meu pai sem trabalho, dependia do salário de minha mãe que demorava até seis meses para chegar. Quando recebia, normalmente por partes, não cobria as dívidas já existentes.
Minha mãe pediu exoneração do cargo após quatorze anos de serviços prestados a Secretaria de Educação do Estado de Goiás e mudamos para o Distrito Federal. Ela passou a ser costureira, e meu pai pedreiro de obras. Assim, morando na periferia, criaram seus cinco filhos.

Eu e o magistério

Resolvi muito cedo que queria ser professora, e mesmo sendo muito tímida e introspectiva, julgava-me capaz de vencer esses obstáculos e exercer a carreira magistério, apesar dos protestos de minha mãe que queria para mim “coisa melhor”, já que sua experiência anterior com a docência não havia sido muito positiva em função dos constantes atrasos de pagamentos e condições de trabalho não adequadas. Ainda no ensino fundamental percorria as escolas com tinham “turmas de pré,”(eram poucas naquela época) e me inscrevia para ser monitora, dizia a minha mãe que era importante para a prova de seleção da Escola Normal.
Quando descobri meu nome na lista dos contemplados da Escola Normal de Ceilândia, tive uma alegria ilimitada, era minha primeira conquista individual. Voltei para casa espalhando minha vitória.
O magistério trouxe a minha vida uma nova dimensão de cidadania, justiça social, valores, reconhecimentos que até então eu não conhecia. Nossas aulas eram repletas de discussões sobre as políticas públicas, responsabilidades com a formação do cidadão, valorização da pessoa humana. No primeiro ano, tive um professor de biologia (ciência que eu ainda não entendia) que, antes de dar seu bom-dia, escrevia no quadro-negro, lá em cima, “EU QUERO VOTAR PARA PRESIDENTE”. É claro que nossa aula não começava com meiose, mitose, células procariontes e eucariontes. Discutíamos sobre o papel do cidadão nas escolhas políticas do país. Havia um segundo professor de português, (Ele era o responsável com os alunos, pelo Centro Cívico Democrático), que iniciava sua explicação pelo final, o que nos impedia de fazer registros enquanto ele passeava pela gramática e fazia tudo ficar fácil. Vê-lo em ação, só reforçava a minha convicção de que estava no caminho certo.
Mas, apesar de toda essa preparação política, não havia muito empenho na formação metodológica, então, produzíamos muito material concreto (tampinhas coloridas, vários alfabetos, técnicas de cartazes, postura frente a turma...), e saí do curso de magistério sem saber muito bem como enfrentar a sala de aula.
Já na rede pública de ensino, não entendia como era um trabalho interdisciplinar, não compreendia o aluno como “um sujeito que vive e constitui o cotidiano educacional,”mesmo trabalhando com crianças, deixava de perceber seu hoje, suas necessidades, seu tempo presente acreditando que o preparava para o futuro. Mesmo assim, deficitária, a direção da escola, convidou-me (no segundo ano de trabalho na rede), para assumir a coordenação pedagógica da escola. Senti-me incapaz, sem preparo, mas fui convencida a aceitar. Não me lembro com clareza desta época, apenas de reproduzir muitos questionamentos e crenças de que poderímos mudar nossa situação com unidade.Permaneci nesse cargo por dois anos.

Eu e a Pedagogia

Decidi que só faria faculdade quando tivesse condições de pagar. Meus pais trabalhavam muito e eu (que era a mais velha) só os via juntos aos domingos. Porém passei no vestibular antes de entrar na rede pública, em uma faculdade particular (na época só havia quatro no DF), e isso trouxe mais alegria a família do meu ingresso na Escola Normal. Resolvi não fazer matrícula, o que não foi aceito por meus pais. Eles decidiram pagar as mensalidades (altíssimas para meu padrão de vida) até eu começar a trabalhar. Duraram seis meses e eu finalmente pude assumir esses custos.
Estar em um curso superior, era um privilégio, e eu queria que valesse a pena. Minha decepção foi imensa. Deparei com professores descomprometidos, sem formação adequada, num ambiente acadêmico de não oferecia mais que carteiras e quadro-negro. Recordava-me da formação do ensino médio, mais rica, intensa, que fortaleceu meus valores e minhas convicções. Percebi que naquele ambiente não iria aprofundar meus conhecimentos mais do que já os tinha. Concluí o curso porque a diferença salarial era significativa. Em casa assumi as despesas maiores, tivemos acesso a bens de consumo, (a primeira TV, som, telefone e o primeiro carro). Resolvi fazer outro curso superior, já que pedagogia não me qualificava como eu gostaria.
“Contar com oportunidades de qualificação ao longo da carreira, inovando a prática do ensino técnico e profissional.”. Essa possibilidade só ocorreu quatro anos após o ingresso na rede pública de ensino. A preferência para os poucos cursos que surgiam era para professores próximos de “barreiras” ou mais antigos. A escola possuía normas rígidas sobre seu funcionamento e não permitia muitos avanços aos iniciantes como eu. Não conhecia sua proposta pedagógica, e o trabalho em equipe interdisciplinar e contextualizado não faziam parte da prática docente.
Em regência eu não era muito convencional, acreditava que tudo que era importante para mim, seria para meus alunos: levava para sala de aula recorte de jornais e revistas, notícias que ouvia no rádio ou na televisão, objetos intessantes (artesanato, peças indígenas, quebra cabeças...) porém, não incentivava meus alunos a questionarem tantas regras, pois acreditava que teria que ser assim para não perdermos o controle sobre o que acontecia dentro da escola. Porém em sala de sala fazia valer minha autonomia de professor.
Mas sei que meus fracassos e êxitos durante esses dezoito anos de magistério trouxeram muitas lições, mas também a certeza de que sem a construção coletiva dos sujeitos nos projetos políticos pedagógicos da escola, gestão democratizada, a comunidade participante e professores respeitados e com boa formação, não há dúvida que, independente de nossa história recente de educação, teremos tanto êxito quanto a Escola da Ponte.
Em 2008, recebi uma proposta de trabalho de tutoria na formação de professores da educação infantil. O curso de Alfabetização e Linguagem trouxe-me novamente a oportunidade de vivenciar algo novo. No primeiro encontro na UnB, percebi o quanto tinha a aprender e o quanto me dedicaria a esse aprendizado. A formação de formadores é uma tarefa árdua porém gratificante, perceber que por meio do seu trabalho muitas conquistas pedagógicas e sociais acontecem. Isso é muito prazeroso.
Minhas reflexões sobre esse período são muitas. A importância dada ao professor pesquisador que parte de leituras e estudos sobre temáticas pertinentes a sua prática trás novas concepções e a mudança de paradigmas. Percebe-se construtor do próprio conhecimento trás uma autonomia e bem-estar que muitos educadores já perderam.
Concluo esse ano com muita alegria e boas expectativas.

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